O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é uma ave de médio porte, medindo cerca de 35 cm e pesando em média 400 g. É conhecido por suas cores vibrantes: o corpo é predominantemente verde, a cabeça exibe tons amarelos, com a fronte e as bochechas azul-esverdeadas, enquanto os ombros e as penas secundárias das asas são vermelhos, com pontas de um azul escuro. (WikiAves, 2024)
Essa espécie ocorre naturalmente em muitos estados brasileiros, principalmente nos biomas do Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica de interior. Mais recentemente, tem sido avistada em áreas da Mata Atlântica litorânea e da Amazônia, provavelmente devido à soltura ou fuga de indivíduos mantidos em cativeiro. (Silveira et al., 2024)
O papagaio-verdadeiro é uma espécie monogâmica, geralmente vista em casais, mas também formam grupos compostos por diversos pares. Quando não estão no período de reprodução, utilizam árvores como dormitório coletivo. Os grupos, segundo Seixas (2009), são em sua maioria formados por 6 indivíduos, entretanto foram registrados grupos de até 80 indivíduos compartilhando um dormitório.
Durante a reprodução, utilizam cavidades em árvores mortas, que podem ser reutilizadas ao longo dos anos. Esse comportamento facilita a captura de filhotes para o tráfico de animais silvestres. Os jovens papagaios atingem a maturidade por volta dos 3 a 4 anos de idade. Em liberdade, essa espécie se alimenta de uma ampla variedade de vegetais, incluindo brotos, flores, frutos e sementes. (Silveira et al., 2024)
É considerado “quase ameaçado” (NT) pelo ICMBio, principalmente devido à perda de 22% da cobertura vegetal de seu habitat nos últimos 45 anos e ao fato de ser o psitacídeo mais apreendido no Brasil. Segundo dados parciais (G.H.F. Seixas & G. Mourão, com. pess., 2021) indicam que, na região leste do Mato Grosso do Sul, entre 75% e 85% dos ninhos monitorados foram arrombados ou as árvores derrubadas entre 2016 e 2020 para a captura de filhotes e ovos. Esse mesmo estudo aponta que a captura dos filhotes levou a uma redução de 30% no recrutamento de jovens para a população adulta ao longo de 22 anos (1997-2018). (Silveira et al., 2024)
Há também problemas associados à criação de papagaios como animais de estimação, pois eles são animais silvestres, e não domésticos. Entre muitos criadores, ainda predomina o senso comum quanto à alimentação dos papagaios. É comum que os animais sejam “humanizados” e alimentados com itens inadequados, como bolo, café e, em especial, uma dieta quase exclusiva de sementes de girassol, que são altamente calóricas e ricas em gorduras. (Tomaya, 2022)
Essa alimentação inadequada, combinada ao sedentarismo comum dos papagaios em cativeiro (causado principalmente pelo corte das penas das asas, que os impede de voar e gastar energia), leva muitos deles a desenvolver lipidose hepática, ou “síndrome do fígado gorduroso”, o que pode levá-los a óbito. (Tomaya, 2022)
Outro fator importante a considerar nas consequências negativas de manter o papagaio-verdadeiro em cativeiro é o impacto na saúde humana. Psitacídeos podem desenvolver uma doença conhecida como clamidiose aviária, especialmente quando não estão em condições ideais de imunidade. Um manejo inadequado pode resultar não apenas no adoecimento da ave, mas também da pessoa que a mantém em cativeiro, com risco de surtos da doença. No Brasil, ainda faltam medidas padronizadas para guiar os clínicos na identificação, manejo e tratamento da clamidiose aviária, o que torna essa questão ainda mais preocupante. (Proença, 2011).
Proteger o papagaio-verdadeiro vai além de impedir sua captura e comércio ilegal. Trata-se de reconhecer seu papel fundamental na natureza, como dispersor de sementes e parte do equilíbrio ecológico, além de respeitar seu direito à liberdade e seus comportamentos naturais. Manter esses animais como pets não só compromete sua saúde e comportamento natural, mas também reforça uma visão equivocada sobre seu lugar no mundo. Precisamos deixar de lado a ideia de que papagaios são pets e passar a admirá-los em seu verdadeiro lar: a natureza.
Referências
PROENÇA, Laila Maftoum; FAGLIARI, José Jurandir; RASO, Tânia de Freitas. Infecção por C. psittaci: uma revisão com ênfase em psitacídeos. Ciência Rural, v. 41, p. 841-847, 2011.
SEIXAS, Glaucia Helena Fernandes. Ecologia alimentar, abundância em dormitórios e sucesso reprodutivo do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)(Linnaeus, 1758)(Aves: Psittacidae), em um mosaico de ambientes no Pantanal de Miranda, Mato Grosso do Sul, Brasil. 2009.
SEIXAS, Gláucia Helena Fernandes; MOURÃO, Guilherme. A long-term study indicates that tree clearance negatively affects fledgling recruitment to the Blue-fronted Amazon (Amazona aestiva) population. Plos one, v. 17, n. 6, p. e0267355, 2022.
Silveira, L.F.; Lima, D.M.; Dias, F.F.; Ubaid, F.K.; Bencke, G.A.; Repenning, M.; Somenzari, M.; Cerqueira, P.V.; Dias, R.A.; Alquezar, R.D.; Costa, T.V.V. 2023. Amazona aestiva (Linnaeus, 1758). Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade – SALVE. Disponível em: https://salve.icmbio.gov.br DOI: 10.37002/salve.ficha.29729 – Acesso em: 11 de Nov. de 2024.
TOYAMA, Vitória Naomi Yabiku et al. Lipidose hepática em papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) adultos: Revisão. Pubvet, v. 16, n. 05, 2022.
WikiAves (2024) [papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)]. Wikiaves, a Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <https://www.wikiaves.com/wiki/papagaio-verdadeiro>. Acesso em: 12/11/2024.