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Cenário do
Tráfico

O Brasil se destaca no cenário mundial pela sua exuberante e abundante fauna! Nossas florestas, savanas, rios e mares abrigam aproximadamente 13% da vida do planeta. Mas infelizmente, essa riqueza vem sendo explorada de diferentes formas pelo Tráfico de Animais.
Photo: Antunes (2014). O comércio internacional de peles silvestres na Amazônia brasileira no século XX. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 9, n. 2, p. 487-518, maio-ago. 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981-81222014000200013.

Ao longo da história de desenvolvimento do Brasil, o tráfico de animais sempre esteve presente. Seja na forma legal, com o intenso comércio de peles no início do século XIX, ou pelas práticas irregulares dedicadas ao mercado pet (animais de estimação), após a década de 70.

O tráfico ilegal da biodiversidade – flora, fauna e seus produtos e subprodutos – é considerado a terceira maior atividade ilegal do mundo, ficando atrás apenas do tráfico de armas e de drogas. Está entre as atividades ilícitas mais lucrativas do planeta, movimentando até 23 bilhões de dólares por ano (Nellemann et al., 2016). Estima-se que o Brasil participa com cerca de 5% a 15% deste total (Rocha, 1995; Lopes, 2000).

Para o Brasil apenas na região metropolitana de Recife, PE estima-se que mais de 630 mil dólares ao ano são levantados por traficantes (Destro et al 2012) – certamente o volume em todo o território seja na casa de milhões de dólares.

Essa devastadora atividade compreende não apenas a retirada e venda de animais vivos, mas também carne, pele, dentes ou qualquer parte de animal. O tráfico afeta todos os grupos de animais, dos invertebrados, como os pepinos do mar, moluscos, aranhas, aos vertebrados como peixes ornamentais (para aquários) e pescados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

Cada um destes grupos de animais apresentam um mercado e uma demanda que incentiva a retirada destes animais de seus habitats para serem comercializados no mercado interno ou exportados ao exterior.

No Brasil o tráfico de animais ocorre tanto para suprir o mercado interno em especial voltados ao mercado pet e consumo de carne, quanto para o mercado externo, em especial voltados a aquariofilia, mercado pet e artigos de luxo de animais como peles, dentes entre outros.

Diferentes fatores estimulam a perpetuação do tráfico no Brasil, a demanda constante por animais silvestres sem dúvida é a principal via de pressão. Certamente a presença de uma elevada biodiversidade em diferentes regiões, a aceitação da população em manter animais em cativeiro ou como fonte de matéria prima e uma legislação fraca são peças chave na perpetuação desse crime com a fauna.

Tráfico de animais em números

Estimativas de quantos animais perdemos para o tráfico são difíceis de se obter, devido a diversas variáveis nesse processo. Os números mais confiáveis e que orientam as ações de combate, estão relacionadas ao número de apreensões e número de animais confiscados por diferentes órgãos de fiscalização. Certamente os números relacionados as apreensões são uma pequena amostra do total de animais extraídos da natureza todos os anos. Ainda assim, no Brasil não existe um sistema ou programa nacional que sumarizem essas informações, ficando estes dados diluídos em diferentes sistemas policiais e/ou de manejo de fauna.

De acordo com os dados dos centros de triagem de animais silvestres (CETAS) os números absolutos de animais confiscados na última década não apresentam indícios de redução, na verdade o número de animais traficados confiscados cresce. Somente no ano de 2018 os CETAS do IBAMA receberam mais de 72 mil animais (Charity & Ferreira 2020).

Uma análise periódica das notícias sobre o tráfico de animais silvestres no Brasil, a iniciativa Observatório do Tráfico da Freeland, em aproximadamente 2 anos, soma mais de 86 mil animais apreendidos, mais de 34 toneladas de carne de caça e mais de 295 toneladas de pescado.

Espécies traficadas vivas

Entre os vertebrados terrestres, os números de animais apreendidos ao longo dos anos mantem um padrão constante, onde as aves representam a maior parcela dos animais traficados, variando entre 80% -90% das apreensões, seguida dos répteis e mamíferos (Viella 2012; Charity & Ferreira 2020; Ibama 2019).

Ao menos 400 espécies de aves nativas são alvo de traficantes, o que representa aproximadamente 20% de toda diversidade de aves do Brasil (Charity & Ferreira 2020), a segunda maior do mundo com 1971 espécies reconhecidas (CBRO 2021).

As aves canoras da ordem passeriformes, como os canário-da-terra (Sicalis flaveola), trica-ferro (Saltator similis), Colerinho (Sporophila caerulescens), Azulão (Cyanoloxia brissonii), galo-da-campina (Paroaria dominicana) entre outros são os mais procurados, representando aproximadamente 45% das aves traficadas (Costa et al 2018). O grupo dos Psitaciformes que incluem os papagaios, araras e periquitos somam mais de 16% das aves traficadas (Costa et al 2018). As espécies de psitacídeos mais procurados pelo tráfico são o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), arara-canindé (Ara ararauna), maritaca (Aratinga leucophthalma), periquito-da-caatinga (Aratinga cactorum).

Infelizmente parte dos animais traficados estão com seu status de ameaça o que amplia o impacto negativo do tráfico na conservação das espécies brasileiras. Dados específicos para as aves indicam entre 8% e 12% dos animais traficados estão categorizados sob ameaça de extinção ( Costa et al 2018; Charity & Ferreira 2020).

As espécies ameaçadas mais frequentes no tráfico de animais no Brasil são: Sporophila frontalis (Pichochó), S. maximiliani (bicudo); papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea), arara-azul-de-lear, (Anodorhyncus leari), arara-juba (Guaruba guaruba), cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata);
Morcatty et al. (2020). Cons Biol. DOI:10.1111/cobi.13498

Tráfico de partes ou artigos de luxo

Onças-pintadas, jaguatiricas entre outros felinos estão hoje entre os animais mais cobiçados, quando falamos de tráfico de partes de animais. Esse mercado é impulsionado pela chamada medicina oriental, que acredita no poder que certas partes destes animais podem ter na virilidade, sorte entre outras crenças. Dentes, peles, garras e até mesmo ossos cozidos são traficados. Esse mercado vem ganhando força, em especial com a drástica redução das populações de tigres na Ásia e leões na África.

Nós últimos anos mais ao menos 1038 felinos, 857 onças-pintadas, 111 jaguatiricas e 70 onças-pardas foram abatidos na América do Sul e Central para suprir mercados da China e Europa. Desse total 35% (60) foram no Brasil (Morcatty et al 2020). Mas é possível que estes números sejam apenas uma subestimativa, visto que em uma única apreensão no Pará foram encontrados partes de 19 onças-pintadas no freezer do traficante.

Diferentes fatores estimulam a perpetuação do tráfico no Brasil, a demanda constante por animais silvestres sem dúvida é a principal via de pressão. Certamente a presença de uma elevada biodiversidade em diferentes regiões, a aceitação da população em manter animais em cativeiro ou como fonte de matéria prima e uma legislação fraca são peças chave na perpetuação desse crime com a fauna.

Com ações simples, todos podemos ajudar a mudar esta triste realidade.

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